China recolheu corações em prisioneiros vivos para transplantes

Publicado por: Editor Feed News
07/04/2022 18:08:06
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Cortesia Editorial Pixabay
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Uma investigação realizada pela Universidade Nacional Australiana a milhares de relatórios médicos da China encontrou evidências de que este país recolheu corações e pulmões em prisioneiros vivos para transplantes de órgãos. E há suspeitas de que a prática continue a ser realizada.

 

Esta nova pesquisa lança dúvidas quanto às reformas anunciadas pela China ao seu programa de transplante de órgãos.

 

Os investigadores australianos acreditam que, na verdade, nada tenha mudado e lançam a ideia de que o país asiático esteja, efetivamente, a executar prisioneiros através da extração de órgãos para transplantes.

 

A investigação publicada no American Journal of Transplantation, neste mês de Abril, pretendia confirmar se, na China, um prisioneiro estaria classificado como “morto cerebral” antes da colheita dos seus órgãos.

 

“A regra do doador morto é fundamental para a ética do transplante“, começam por realçar os autores do estudo. Esta regra determina que “a colecta de órgãos não deve começar até que o doador esteja morto e formalmente declarado assim, e da mesma forma, que a colecta de órgãos não deve causar a morte do doador”, apontam.

 

O estudo acrescenta que tem havido “controvérsia intensa em torno da participação de médicos na execução de prisioneiros capitais”.

 

Ora, são precisamente dois tópicos que estão a “convergir” neste caso com “o envolvimento íntimo de cirurgiões de transplantes na China na execução de prisioneiros através da aquisição de órgãos”, frisam os investigadores.

 

No estudo intitulado “Execution by organ procurement: Breaching the dead donor rule in China” (“Execução para obtenção de órgãos: violando a regra do doador morto na China”), os autores explicam que usaram “a análise computacional de textos” para fazer “uma revisão forense de 2.838 artigos extraídos de um conjunto de dados de 124.770 publicações de transplantes em língua chinesa”.

 

O algoritmo informático procurou “evidências de declarações problemáticas de morte cerebral durante a colheita de órgãos”. E encontrou provas de que em 71 casos, “a morte cerebral não pôde ser devidamente declarada” em prisioneiros a quem foram recolhidos corações e pulmões, frisa a pesquisa.

 

“Nestes casos, a morte deve ter sido causada pelos cirurgiões que obtiveram os órgãos“, aponta ainda.

 

“Como esses doadores de órgãos só poderiam ter sido prisioneiros, as nossas descobertas sugerem fortemente que médicos na República Popular da China participaram de execuções por remoção de órgãos“, concluem.

 

Explicações para como doador ficou “incapacitado”

Os documentos médicos analisados pelos investigadores “não descrevem como o doador ficou incapacitado antes da aquisição” dos órgãos e há “vários cenários plausíveis”, aponta-se no estudo.

 

Entre estes estão “uma bala na cabeça do prisioneiro num local de execução antes de serem levados às pressas para o hospital” ou “uma anestesia geral aplicada na sala de cirurgia directamente antes” da recolha do órgão.

 

Outro cenário possível enunciado na pesquisa passa por “uma injecção letal, com execução concluída pela captação de órgãos”, o que causaria “dor excruciante” aos prisioneiros alvo da extracção.

 

Mas os investigadores ainda admitem mais um cenário que pode passar por usar “um dispositivo especializado” para “infligir morte encefálica” e, assim, “isolar os profissionais médicos do processo”.

 

O estudo faz referência a uma “máquina de percussão de lesão primária do tronco cerebral”, cuja patente pertencerá a um ex-chefe de polícia da China que estaria envolvido em transplantes de órgãos.

 

A patente descreve-a como uma máquina para ser usada em animais de tamanho médio e “não há nenhuma evidência pública de que já foi usada em humanos”. Contudo, existem “evidências anedóticas, testemunhas oculares e textuais anteriores” que “são consistentes com esses relatos”, notam os investigadores.

 

“Pequena amostra de população oculta substancial”

Estas cirurgias de remoção de órgãos terão sido feitas em prisioneiros no corredor da morte, mas também nos chamados “prisioneiros de consciência“, ou seja, em pessoas detidas pelas suas convicções políticas, por exemplo.

 

Os investigadores acreditam que o número de casos de cirurgias em prisioneiros vivos será muito maior do que os 71 casos detectados.

 

“Suspeitamos que capturamos uma pequena amostra de uma população oculta substancial“, apontam, frisando que detectaram também procedimentos cirúrgicos semelhantes em doadores de fígado e de rim.

 

A China tem negado esta prática, mas os autores do estudo alegam que é algo que se faz no país há cerca de três décadas.

 

Lei chinesa permite a recolha de órgãos de prisioneiros executados, o que já em si é considerado controverso.

 

“A partir de 2021, os profissionais de transplante de órgãos da China melhoraram a sua reputação com os seus pares internacionais”, sobretudo depois das “alegações de que cessaram o uso de prisioneiros como doadores de órgãos em 2015“, notam ainda os investigadores que, contudo, suspeitam que isso seja verdade.

 

“Embora doações voluntárias estejam a ocorrer na China mais do que nunca, ainda não há dados confiáveis sobre a verdadeira escala das reformas” que o país anunciou neste âmbito, e “também não está claro se e em que grau os prisioneiros do corredor da morte e os prisioneiros de consciência ainda estão a ser utilizados como fontes de órgãos”, frisam os investigadores australianos.

 

“Não está claro porque os hospitais chineses deixariam de se envolver nesse comércio lucrativo“, concluem ainda.

 

As filas de espera para o transplante de órgãos podem ser de vários anos em diversos países, nomeadamente nos EUA e no Reino Unido. Mas na China, a espera é de apenas algumas semanas.

 

Por Susana Valente

Publicado originalmente por: Planeta ZAP

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