Sem a mulher, não haveria agricultura familiar no Brasil, diz chef

Publicado por: Editor Feed News
11/10/2018 11:18:21
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Irmã caçula de uma família de seis filhos, Teresa Corção nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Formada em Programação Visual em Londres, mudou de carreira em 1981, quando decidiu se juntar a uma das irmãs para coordenar a culinária do restaurante “O Navegador”, do qual é proprietária e chefe executiva.

 

Há 16 anos, a mestra-cuca percebeu que o seu trabalho também poderia melhorar a vida de agricultores locais. Teresa entrou para o movimento Slow Food, que prega escolhas conscientes na hora de comer, levando em conta a sustentabilidade da produção e do consumo dos alimentos.

 

Em 2004, a chef viajou para a Bragança (PA), na Amazônia brasileira. Lá, conheceu Seu Bené e Dona Maria, que trabalham na produção de mandioca. Teresa resolveu então fazer um documentário sobre o modo de preparo da farinha d'água, um alimento tradicional da área, mas que estava esquecido.

 

Mesmo com poucos recursos, a cozinheira conseguiu produzir um curta-metragem, que foi apresentado em uma palestra internacional e enviado para a Prefeitura do município. Com a repercussão, as autoridades locais começaram a resgatar a fabricação artesanal da farinha, bem como o uso das embalagens tradicionais para o alimento, feitas com folhas e talos da planta de Guarimã, típica da região amazônica.

 

Teresa também começou a procurar outros chefs para promover a farinha d’água empaneirada. “Essa etapa foi muito difícil, pois muitos chefs de cozinha não tinham interesse em promover isso, e outros achavam o produto mais caro que o produto embalado em plástico”, lembra.

 

Para fabricar a farinha d'água, a pessoa tem que ter o conhecimento para tecer, forrar com as folhas e fechar o peneiro, um ofício ancestral que torna a produção mais trabalhosa, mas preserva a sustentabilidade do processo.

 

Depois de conhecer a farinha d’água empaneirada, Teresa começou a pesquisar a farinha de mandioca. A chef viajou para o Sul do país, perto de Florianópolis, onde conheceu Dona Rosa, produtora orgânica que começou a fornecer para o restaurante da carioca.

 

Quando se deu conta, a mestra-cuca viu que "O Navegador" estava usando alimentos vindos diretamente da agricultura familiar brasileira. Tudo começou com três tipos de farinha: a farinha de Bragança, a farinha de Santa Catarina e a farinha de Copioba, da Bahia.

 

Teve início uma longa peregrinação em busca de outros fornecedores e produtores familiares. Em suas viagens, Teresa percebeu que as mulheres rurais exerciam uma dupla jornada, pois eram esposas, agricultoras e donas de casa.

 

“Notei que as mulheres do campo sabiam fazer toda a produção da agricultura e além dessa tarefa, muitas vezes, chegavam cansadas em casa por causa do trabalho na roça e tinham que trabalhar para o sustento da família, cozinhar e cuidar dos filhos”, conta.

 

“Eu acho essas mulheres muito guerreiras, muito fortes, não é à toa que, nas cooperativas e nas associações, as mulheres vêm conquistando seu espaço, tomando a frente e organizando. Elas não fogem à luta, não tem medo das dificuldades nem do comprometimento com o trabalho."

 

O interesse pela agricultura familiar se transformou em 2007 no Instituto Maniva, uma ONG fundada por Teresa para usar a gastronomia como instrumento de transformação social. “Fui andando e formando meu restaurante com um grande diferencial porque eu faço questão de ter no Navegador vários produtos da agricultura familiar”, ressalta a chef.

 

Teresa escolhe pequenos produtores da agricultura familiar de vários estados do Brasil, não só porque seus alimentos são feitos artesanalmente, mas também por reconhecer o valor da mulher rural. Com isso, a chef espera apoiar a economia do Brasil, preservar o meio ambiente, valorizar os produtos da biodiversidade nacional e diminuir o êxodo rural.

 

Hoje, a mestre-cuca faz parte de um grupo de "ecochefs", que organizam movimentos no Rio de Janeiro e buscam valorizar a mulher no campo. “A mulher rural é a força do campo, sem ela não teria agricultura familiar”, completa.

 

15 dias pela autonomia das mulheres rurais

Os papéis desempenhados pelas mulheres rurais são tão numerosos quanto suas lutas e vitórias. O que não faltam são histórias de vida inspiradoras. No entanto, elas ainda não têm o reconhecimento merecido. Sofrem com o preconceito e a desigualdade de gênero.

 

Ainda há um longo caminho para a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres no campo. A fim de mostrar que a equidade de gênero e o respeito são valores necessários cotidianamente, a ONU decretou 2018 como o Ano da Mulher Rural.

 

A partir de 1º de outubro, serão publicadas no portal da FAO uma série de reportagens que fazem parte da Campanha Regional pela Plena Autonomia das Mulheres Rurais e Indígenas da América Latina e do Caribe – 2018. Serão 15 dias de ativismo em prol das trabalhadoras rurais que, de acordo com o censo demográfico mais recente, são responsáveis pela renda de 42,2% das famílias do campo no Brasil.

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